O primeiro dia do resto das nossas vidas
Criminologia

O primeiro dia do resto das nossas vidas







Finalmente! Depois das despedidas de 29 de março e 09 de abril, finalmente começo a viver o que vem depois! Depois da aposentadoria no Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro. Em um rápido balanço relembro vinte e quatro anos de magistratura - mais os três no Ministério Público, a advocacia, e o início da vida profissional, na adolescência ainda, muito duro e difícil, mas didático, naturalmente na iniciativa privada. Mas foi na magistratura que experimentei o encontro entre o êxtase estranho das primeiras aulas de direito, na UERJ, em 1978, e a atuação concreta, nas trincheiras da vida nua, que o exercício da função de juiz criminal, no Rio de Janeiro, possibilita às vezes dolorosamente.
As lembranças, porém, são doces. Digo, adocicadas. Embalado pela melodia das músicas do Leoni - Fotografia, Criado Mudo e tantas outras que extraio do IPod - e enredado amorosamente pela Gi, luz e calor em minha vida, em uma Búzios cercada de estrelas, depois de muita preguiça curtida na praia, vou refletindo sobre as incertezas do futuro - os desafios são desafios porque carregam altas doses de imprevisibilidade, mas também de esperanças e expectativas.
Como será (o) amanhã! Trouxe um craque para a praia, "pra" me ajudar: Tostão. São os mistérios da alma humana (há outra?), da vida, ter escolhido ler as crônicas de um extraordinário craque de futebol, campeão do mundo no time mais sensacional que existiu, a Seleção Brasileira de 70, um pensador que há muitos anos mudara a minha vida.
Foi no dia em que Tostão escreveu um elogio ao goleiro Taffarel, outro craque, goleiro campeão mundial em 94, fim de nosso jejum de Copas. Tostão elogiava a decisão de Taffarel de dizer não à convocação para a seleção, em 1995. Taffarel reconhecera estar mal, física e tecnicamente, e que servir à seleção implicava ser o melhor entre os melhores no momento da convocação. Não era o caso e ele admitia isso publicamente, dando as razões da recusa gentil em voltar a vestir a consagrada camisa.
Para Tostão o ato de dizer não, especialmente em circunstâncias em que o sim colocaria a pessoa em evidência, naturalmente, era ato de coragem, maturidade e de tremenda responsabilidade ética. Por isso mesmo era um comportamento raro e muito difícil de levar adiante, ainda mais quando seria razoável supor represálias - até de colegas de profissão - pelo inusitado de recusar aquilo com o que todos supostamente sonhavam, desejavam. Pode-se dizer que Taffarel foi o precursor do Coringa (Heath Ledger), do Batman: O Cavaleiro das Trevas (2008), que intrigava os demais... por queimar a sua parte do dinheiro!
Foi a primeira grande lição que recebi do mestre da bola. Dizer não quando é mais fácil e proveitoso, pessoalmente, dizer sim!
E agora, que me encontro em uma encruzilhada na vida, diante do novo que se coloca como desafio, com a "zona de conforto"(expressão na moda!) deixada para trás, aconchegado na Gi, leio Tostão (A perfeição não existe: paixão do futebol por um craque da crônica, São Paulo: Três Estrelas, 2012) e leio "o cara" falar dos desafios de mudar de campo de atuação. Deixar de ser jogador para atuar como treinador, cronista, comentarista, coordenador técnico etc. Enfim, mudar!
"A experiência não passa de uma função a outra"; "a experiência é também relativa"; "não basta ter sido craque"; "fiquei fascinado, eufórico com a chance de trabalhar na seleção [de 2002, que terminou, também, campeã do mundo], mas recusei, principalmente porque me sentiria incomodado em ocupar um cargo em confiança do presidente da CBF, que eu criticara e que estava sendo investigado pelas CPIs"; "Lamentei, mas não me arrependi. Recusaria novamente. Para manter a coerência e não vender a alma perdemos algumas vezes boas chances na vida"; "a ambição, no sentido de lutar por seus desejos, é fundamental em qualquer atividade"; "sem garra, não se faz nada na vida. Até para chupar um picolé é preciso entusiasmo. A transpiração serve de apoio para a inspiração"; "a humildade não é o desconhecimento do que somos, mas o conhecimento e reconhecimento do que não somos". Essas e outras tantas pequenas grandes lições servem de estímulo, apontam para os riscos e ainda ajudam a desenhar o projeto de vida que desde sempre busquei realizar: a busca da felicidade.
Notas curtas de uma noite de muito amor e de esperança, em Búzios!



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